domingo, 23 de setembro de 2012

Salton Poética Rosado


O vinho dessa semana é o primeiro, digamos, vernacular. (Vamos dizer que seja uma homenagem ao Brasil, bastante necessária depois da derrota do Vitor Belfort no UFC ontem – apesar de ele ter sido muito guerreiro).

1. FICHA TÉCNICA
 -- Produtor: Vinícola Salton
-- País: Brasil
-- Denominação de Origem: Não tem (mas, como a maioria dos bons vinhos do Brasil – mas não todos! – esse vem da região do “Vale dos Vinhedos”, em Bento Gonçalves/RS).
-- Uvas: 50% Chardonnay, 50% Pinot Noir (uma combinação clássica em espumantes)
-- Teor alcoólico: 11,5%
-- Ano:  Não informado (algo também comum em espumantes, exceto os chamados “safrados”, que, normalmente, são caríssimos – pense, para quem conhece, em “Dom Pérignon” ou, entre os brasileiros, Cave Geisse, que vem subindo, provavelmente, 1000% mais que a inflação, safra a safra).

2. MINHAS NOTAS DE DEGUSTAÇÃO
-- No nariz: complexidade média-baixa, aroma de laranja e um toque de morango (o rótulo fala em “flores”, mas eu não notei nenhuma nota floral, aqui)
-- Na boca: suave, frisante (“gasoso”) numa medida aveludada; gosto de limão e morango (novamente, não senti as “especiarias e frutas negras” mencionadas no rótulo).
-- Retrogosto: não muito pronunciado (o que é comum em espumantes), mas com um interessante toque de tomate maduro (uma nota que seria, normalmente, um “defeito” do vinho, mas na verdade muito gostoso, no caso deste vinho).

3. ONDE COMPREI E PREÇO
-- Supermercado Guanabara, da Avenida das Américas (Barra da Tijuca)
-- R$ 27,90

4. ALGUNS COMENTÁRIOS (e dicas de harmonização)
Este é o nosso primeiro espumante, e também o nosso primeiro rosado (ou, como às vezes o nosso esnobismo nos faz dizer, “rosé”...). E também é o nosso primeiro vinho nacional.
O Brasil vem construindo (mais ou menos ao longo dos últimos dez anos) uma reputação como produtor de bons espumantes. Por outro lado, a onda de calor que rondou o Rio de Janeiro (e outras cidades) na última semana não convida a tomar vinhos tintos, ou comer comidas que harmonizam com vinhos tintos.
Daí a ideia de um rosado (e espumante). Os rosados, na literatura especializada, são tratados como tintos, mas tudo vai depender, na verdade, das notas e gostos que se destacam no vinho específico. Os vinhos ficam rosados, porque o produtor permite que as cascas das uvas fiquem em contato limitado com o vinho no estágio de fermentação. É da casca que vem a “tinta” que faz a cor do vinho – daí porque uvas que têm a casca escura e grossa, como a Malbec, geram vinhos particularmente escuros. Embora algumas uvas viníferas tenham a casca verde – e, portanto, não sejam capazes de produzir vinhos tintos – essa não é uma regra universal para brancos. A uva Pinot Noir, por exemplo, gera tanto vinhos tintos (como os belos vinhos da Borgonha, na França) como vinhos brancos – notadamente espumantes.
Este Salton Poética, que leva Chardonnay (uma uva verde) e Pinot Noir (uma uva roxa), provavelmente foi deixado em contato com as cascas da Pinot Noir e ganhou um rosado bem avermelhado. No entanto, as suas notas de aroma e gosto são bem marcadamente brancas – especialmente os cítricos.
Em termos de harmonização, esse rosado vai muito bem sozinho (como vinho de aperitivo); com amendoins, castanhas e afins. Pensando em pratos, dado o teor alcoólico baixo e a predominância dos cítricos, esse espumante iria muito bem com um peixe assado (temperado com bastante limão, ervas picantes – como manjerona e alecrim – e vinagre branco), e com saladas mais leves (à base de folhas, grãos, tomate), especialmente se temperadas com um molho vinagrete clássico (que NÃO é o mesmo que molho à campanha!). Para outros pratos, provavelmente o gosto dele conflitaria ou se perderia.
Ah!, e, como todo espumante, este deve ser servido a temperaturas baixas. Mas cuidado: temperaturas baixas querem dizer entre 6 e 10 graus, mais ou menos – não menos. Temperaturas muito baixas fazem a atividade molecular do vinho ir praticamente a zero, o que impede que os aromas, principais responsáveis pelo sabor, saiam do vinho e atinjam o nosso aparelho sensório. Se você (como eu) não tem um termômetro, pense que sua geladeira está a no máximo 6 e no mínimo 2 graus (em regra) e o seu congelador deve estar em torno de -2 graus. Para servir, deixe uma meia hora em geladeira ou uns 10 a 15 minutos no congelador. 

domingo, 16 de setembro de 2012

Sacred Hill Shiraz-Cabernet 2010


O vinho dessa semana vem do outro lado do mundo.

1. FICHA TÉCNICA

-- Produtor: De Bortoli
-- País: Austrália
-- Denominação de Origem: Não tem.
-- Uvas: Shiraz (também escrita como “Syrah”) e Cabernet Sauvignon
-- Teor alcoólico: 13%
-- Ano: 2010


2. MINHAS NOTAS DE DEGUSTAÇÃO (chique, hein?)
-- No nariz: complexidade baixa, aroma de noz moscada (especiarias) e morango
-- Na boca: suave, levemente tânico (aquele gosto típico de fruta verde, especialmente caqui – mas que, no vinho, quando não muito pronunciado, é gostoso), um pouco de amora e, depois de abrir (isto é: ficar em contato com o oxigênio do ar), ameixa.
-- Retrogosto: muito suave, talvez lembrando um pouco caqui maduro.

3. ONDE COMPREI E PREÇO
-- Supermercado Zona Sul da Av. Bartolomeu Mitre
-- R$ 23,50

4. ALGUNS COMENTÁRIOS (e dicas de harmonização)
Dos três vinhos que coloquei no blog, esse é o menos complexo. É um vinho típico para o dia-a-dia, bom para tomar enquanto faz alguma coisa (como escrever algo na internet, por exemplo), e bom também para fazer uma boa redução em uma frigideira com os restos da grelha de um filé (e um alho amassado no murro) – a receita culinária é brinde, tá?
Outra particularidade interessante desse vinho é que ele é de rosca – ou seja: não tem rolha, nem natural, nem sintética. Como a maioria já sabe, a árvore que faz a cortiça (e, também, a rolha) está cada vez mais escassa. Por isso, as rolhas têm sido reservadas para vinhos que devem, lentamente, envelhecer na garrafa, para que fiquem mais suaves – ou, como se costuma dizer em língua de vinho, mais “redondos”. São os chamados “vinhos de guarda” (embora, como em tudo que diz respeito a vinho, também a rotulação de um vinho como “de guarda” envolva muito marketing).
Com a escassez de rolhas, tem-se apelado para rolhas sintéticas, ou, especialmente em vinhos do Novo Mundo (Austrália e Nova Zelândia mais do que os outros países), por roscas em alumínio. Essas roscas, como não são porosas, não deixam quase nenhum oxigênio entrar (ao contrário das rolhas, naturais ou não). Como resultado, esses vinhos não envelhecem em garrafa. Assim, quando você comprar um vinho de rosca, saiba que, segundo o produtor, é um vinho que você pode tomar imediatamente. Ainda há muito preconceito sobre o vinho com tampa de rosca, mas, como vou mostrar em um post durante a semana, esse preconceito vem se mostrando completamente infundado.
Ah!, e outra dica: já que não há rolha para ressecar os vinhos de rosca também não precisam ser guardados na horizontal (cujo objetivo é deixar sempre o líquido do vinho em contato com a rolha).

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Castel Puyol Tannat Reserva 2008


Hoje, vamos direto ao assunto:

1. FICHA TÉCNICA 
-- Produtor: Bodegas Carrau
-- Denominação de Origem: Não tem.
-- Uvas: Tannat (é um monovarietal, o que, obviamente, quer dizer que só tem uma uva na sua composição)
-- Teor alcoólico: 13.5%
-- Ano: 2008

2. MINHAS NOTAS DE DEGUSTAÇÃO (chique, hein?)
-- No nariz: complexidademédia-alta, aroma misto de aniz, ameixa e melado
-- Na boca: muito aveludado, gostos de café e canela (leves), gosto predominante de aniz e licor de cereja, embora não muito doce.
-- Retrogosto: cítrico, algo como pomelo rosado (inusual para um vinho tinto, eu sei, mas interessante, não?).

3. ONDE COMPREI E PREÇO
-- Supermercado Zona Sul da Av. Bartolomeu Mitre
-- Preço: R$ 29,80

4. ALGUNS COMENTÁRIOS (e dicas de harmonização)
Neste caso, temos uma uva tipicamente produzida no Uruguai, mas oriunda da França – a uva Tannat.
Algumas uvas de origem europeia se aclimatam melhor no chamado Novo Mundo (ou seja: qualquer lugar que não seja a Europa). A mais famosa talvez seja a uva Malbec, que se tornou símbolo da Argentina, especialmente da região produtora de Lujan de Cuyo, na província de Mendoza, ao leste. A uva Carmenère também faz sucesso no Chile (embora eu, pessoalmente, ache esse sucesso infundado: a maioria dos Carmenère chilenos, salvo alguns raros e de preços exorbitantes, tem gosto de terra).
Assim como a Malbec, a Tannat é uma uva que costuma agradar e combinar bem com o tipo de comida associada com a região: carne vermelha, normalmente grelhada em altas temperaturas. Por isso, a combinação óbvia de um vinho Tannat é com carnes vermelhas – tanto grelhadas em altas temperaturas (calor seco) ou cozidas/braseadas em temperatura fixa por longos períodos (calor úmido).
No entanto, como para qualquer vinho, a harmonização depende da complementação de gostos. O retrogosto cítrico desse vinho, por exemplo, faz com que ele possa ser um bom acompanhamento para peixes gordurosos (como salmão ou cherne), especialmente assados ou acompanhados de gostos mais agridoces (como compotas, capim-limão, tomilho).
De modo geral, em termos de custo-benefício, é um belíssimo vinho. Aliás, busquem a uva Tannat: em tempos de alta do preço do vinho argentino, é um ótimo competidor, normalmente de preço mais baixo e bastante regular em termos de qualidade.

domingo, 2 de setembro de 2012

Messias Douro 2004


Bem-vindos de volta. Essa é a primeira postagem que diz respeito à finalidade desse blog – mostrar que é possível beber bons vinhos pagando pouco (no máximo 30 reais!).
Essa postagem também inaugura o formato que as postagens específicas sobre vinhos terão. Então, vamos lá:

1. FICHA TÉCNICA


-- Produtor: Vinhos Messias S/A (na verdade, ao que parece, eles apenas engarrafaram e distribuíram o vinho, que deve ter sido produzido por pequenas casas locais, mas essa informação não é clara no rótulo)
-- Denominação de Origem: Douro (Região do vale do Rio Douro, no Nordeste de Portugal)
-- Uvas: O rótulo não especifica, mas os vinhos do Douro tendem a ser feitos com Touriga Nacional, Tinta Roriz e Touriga Franca (que, incidentalmente, são as mesmas utilizadas no Vinho do Porto, que também é produzido no Douro, por um método completamente diferente) – para quem quiser saber um pouco mais: http://www.ivdp.pt/pagina.asp?codPag=81&codSeccao=2&idioma=0

-- Teor alcoólico: 13.5%
-- Ano: 2004

 


2. MINHAS NOTAS DE DEGUSTAÇÃO (chique, hein?)
-- No nariz: complexidade média-baixa, aroma predominante de amoras (e um pouco de mirtilos (ou blueberries))
-- Na boca: um pouco tânico, mas bem composto; gosto de café, chocolate.
-- Retrogosto: marcante, uma pimenta suave, como pimenta-da-jamaica.


3. ONDE COMPREI E PREÇO
-- Na loja Lidador do Shopping da Gávea
-- Preço: R$ 26,50

 

4. ALGUNS COMENTÁRIOS (e dicas de harmonização)
Depois da União Europeia, os vinhos do Douro têm estado em alta (de qualidade e de preço), para além do Vinho do Porto. Algumas uvas do vale do Douro – especialmente a Tinta Roriz – são versões locais de uma das principais uvas nativas da Espanha (a Tempranillo, principal uva dos vinhos da região de Rioja), mas tendem a amadurecer mais rápido. Como resultado, os vinhos do Douro tendem a ser menos "salgados" do que os espanhóis – o que, na minha nota, explica os gostos de café, chocolate e o aroma de amora).
De modo geral, vinhos harmonizam bem com pratos que combinariam ou seriam bem "temperados" pelos gostos e aromas dos vinhos. Esse Messias Douro 2004, portanto, vai bem com carne grelhada e assada, mas também com frango, desde que seja bem temperado, de preferência em molho. Peixe, que não combina com chocolate ou café, não cai bem – embora um salmão agridoce (tipo um Gravlax) talvez seja uma boa pedida.
É um vinho de excelente custo-benefício, para consumo imediato e que faz bonito mesmo tomado puro (mas, nesse caso, procure não tomá-lo muito frio: 18 a 20 graus parece excelente: 10 minutos na geladeira antes de servir).