segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Paulo Laureano Clássico


O vinho dessa semana é uma recomendação do meu grande amigo, grande chef e grande sommelier (ao contrário de mim, com um diploma) Leopoldo Mayrinck. É o segundo “patrício”, o que demonstra o que eu já disse antes: os Portugueses estão campeões em custo-benefício (ao contrário de em Futebol, onde eles têm o jogador mais caro e mais inútil do mundo, para a sua seleção...).

1. FICHA TÉCNICA
 -- Produtor: Paulo Laureano (o Leopoldo disse que conheceu o “fera” em Portugal e que ele é uma figura. Fica a dica para quem estiver de malas prontas para lá).
-- País: Portugal
-- Denominação de Origem: Não tem; mas tem uma Indicação Geográfica Típica (IGT): Regional Alentejano (ver mais nos comentários)
-- Uvas: Trincadeira, Aragonez e Alfrocheiro
-- Teor alcoólico: 13%
-- Ano: 2010.

2. MINHAS NOTAS DE DEGUSTAÇÃO
-- No nariz: complexidade média-alta, aroma de framboesa, canela e aniz
-- Na boca: textura forte, tanino marcante (mas não exagerado), gosto de amora e framboesa.
-- Retrogosto: ameixa seca


3. ONDE COMPREI E PREÇO
-- Supermercado Prezunic da Rua General Polidoro (Botafogo)
-- R$ 25,90


4. ALGUNS COMENTÁRIOS (e dicas de harmonização)

Portugal, depois da União Europeia, passou a ser um importante centro produtor de vinhos, saindo de uma tradição fraca de vinhos excessivamente doces (o que nós brasileiro conhecemos muito bem, com os nossos “Sangues de Boi” – pronuncia-se “boá”, para quem não sabe...). Ultimamente, o custo-benefício vem sendo a marca dos vinhos portugueses – embora alguns deles, especialmente os reservados da região do Douro, sigam ganhando festivais e indicações de especialistas.
O nosso vinho da semana é de uma região cada vez mais proeminente em Portugal, o Alentejo. Os vinhos alentejanos costumam ser mais suaves, tanto na textura quanto no aroma/sabor, o que faz deles, normalmente, excelentes acompanhamentos para peixes gordurosos e coesos como o bacalhau.

Embora não seja da Denominação de Origem Protegida (DOP) Alentejo, este vinho tem uma Indicação Geográfica Típica (IGT) da Região Alentejana. Para facilitar a nossa vida, vamos estipular que a diferença entre um selo “DOP” e um “IGT” está apenas no nível de exigência que autoridade que certificadora impõe. Os DOPs, além da exigência da localização geográfica (“terroir”, em “Vinhês”), também têm exigências sobre seleção de uvas, percentagens máximas e mínimas de cada uva, tempo de maturação em barrica, e possivelmente outras exigências. O resultado é um vinho mais uniforme, mas não necessariamente melhor. Alguns produtores, livres das exigências dos DOPs, podem ser mais criativos e seguir mais a sua intuição. Além do mais, como têm menos exigências, os vinhos tendem a ser mais baratos. Na Itália, por exemplo, os IGTs frequentemente produzem vinhos excelentes, a bom preço (procurem os da região da Toscana, por exemplo).
Este Paulo Laureano é um bom exemplo de como a criatividade pode casar bem com o vinho. Apesar de ser um Alentejano, este vinho tem características muito parecidas com os vinhos bordaleses (ou seja: da região de Bordeaux, na França, para quem não ligou o nome à pessoa), tanto no sabor, quanto na textura. Há uma grande complexidade nele, atípica para vinhos do Alentejo. E o preço é excelente.
Para acompanhar esse vinho, sugiro evitar o peixe, mesmo o bacalhau. Uma possível exceção aqui seja peixe cru (ou seja: sushis, sashimis e makimono), por conta da textura mais rústica. No mais, carnes simples ou mais complexas e frangos com molho são excelentes pedidas.